terça-feira, 1 de junho de 2010

O Vale das Rosas

RONCESVALLES foi o local escolhido para o início de nossa peregrinação até Compostela. E, as vésperas de nossa viagem, gostaríamos de compartilhar a história deste incrível lugar!

Esta pequena aldeia, chamada Orreaga pelos bascos, com não mais que um punhado de habitantes (24 habitantes segundo o censo de 2004) e escondida no meio dos Pireneus, está longe de ser um local abandonado e decadente. É um dos locais mais vivos e mais luminosos do Caminho. Aqui, de uma maneira única e mágica, ocorre um sincretismo histórico e mitológico em que se mesclam a imortal tradição jacobea da Espanha, com o inesquecível ciclo carolíngio da França. A presença de Carlos Magno dá força e prestígio ao culto de São Tiago, enquanto a presença do apóstolo engrandece e santifica o imperador dos francos.

Carlos Magno foi rei dos francos e o 1º Imperador do Sacro Imperio Romano. Durante os 46 anos de reinado, promove mais de 50 guerras para expandir o cristianismo e impor sua hegemonia ao Ocidente. Conquista a Saxônia, apodera-se da Catalunha, da Baviera, da Lombardia e luta contra os árabes na região dos Pirineus.



A incursão armada de Carlos Magno na Espanha, no ano de 778, ainda que fracassada, deu frutos inesperados ao longo dos tempos.
Um deles foi que o episódio serviu para ambientar os feitos do lendário conde Rolando, sobrinho do rei dos Francos, que, cavaleiro fiel, lutou até o fim contra uma turba de sarracenos na batalha de Roncesvalles, motivo para a Canção de Rolando, texto fundador da literatura cavalheiresca medieval, aparecido no ano de 1.100.

Convencido de que era viável aventurar-se numa operação militar de surpresa sobre a Espanha, então ocupada pelos mouros (árabes), assim Carlos Margo o fez. Mas os saxões, que habitavam o norte do reino dos Francos juntamente com os bascos de navarra, aproveitando-se da ausência dele, ousaram revoltar-se, entrando em pé de guerra. Não restou ao monarca carolíngeo senão que desfazer o plano e dar a ordem de retirada de volta para a França.

Além dos saxões rebelados do norte, Abderraban I, o emir de Córdoba ( da Espanha Muçulmana), aproveitou também a oportunidade. Quando soube da aproximação dos francos, arrebanhou tropas da África e as enviou em marcha forçada para enfrentar os invasores cristãos. Ao lá chegarem viram que Carlos Magno já estava recuando pela estrada serpenteada dos Pirineus, e decidiram seguir o exército.


A batalha de Roncesvalles

Carlos Magno destacara o valente Rolando, seu sobrinho, como o encarregado de proteger a retaguarda do exército em retirada. Não demorou muito para que lá no alto da cordilheira terminassem por serem emboscados pela gente da região. O local escolhido para a batalha foi Roncesvalles, um vale situado há 1.066 metros de altitude. Pegos de surpresa no dia 5 de agosto de 778, os homens de Rolando lutaram bravamente até que , um a um, sucumbiram com a aparição dos inimigos. Foram literalmente soterrados pela avalanche de pedras, de espadas e lanças que desabou sobre eles de todos os lados. O rei Carlos, que estava acampado a meio caminho da França, num lugarejo chamado Valcarlos, o Vale de Carlos, teve que retornar para tentar salvar os seus homens. Esforço perdido, pois quando chegou a Roncesvalles, o rei dos francos deparou-se com um canteiro de mortos, pilhas deles. Nada mais lhe restou senão fazer uma prece frente ao corpo dilacerado de Rolando.


E chocado com a morte terrível de seu exército, em gratidão decidiu dar aos seus soldados um enterro cristão, mas ninguém podia distinguir seus homens dos seus inimigos, já que todos estavam misturados ao chão. Carlos Magno roga a Deus um sinal para distingui-los, já que considera inadequado unir inimigos em um único túmulo. Os soldados que o acompanham anunciam que, em alguns corpos, uma rosa brotou na boca dos mortos. Carlos Magno identifica isso como um sinal de Deus e resolve dar aos seus bravos guerreiros, o enterro cristão. Esta lenda seria a origem do nome RONCESVALLES que significa "Rosis Valle", o Vale das Rosas.




***E é com esta incrível história que começaremos nosso Caminho, daqui a 4 dias, sentindo-nos mergulhar em um livro aberto, repletos de lendas e significados, enaltecidos por heróis e santos. Livro aberto cujas páginas ainda estão sendo construídas, a partir da aventura de todos os peregrinos que, como nós, deixarão as suas próprias "pegadas" para história.


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