quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um momento para recordar...

Há 05 anos, em uma turnê pela Espanha, conhecemos um trecho do CAMINHO DE SANTIAGO. Como já foi comentado aqui no Blog, fomos "tocados" por um sentimento de paz ao ver a beleza das paisagens e a energia dos peregrinos. Na época, como de costume a cada retorno de viagem, escrevemos nosso diário de viagem. Abaixo segue o trecho do nosso relato:




"Nosso acampamento foi desmontado logo cedo em uma nova manhã de sol e céu azul. O café da manhã, ou melhor, nosso desayuno no camping foi muito breve, pois estávamos anciosos para conhecer León, mais uma cidade deste país que se mostra a cada dia, mais admirável e encantador. Por volta de 10 horas, já estávamos caminhando pelo centro histórico. O românico Panteão Real, onde estão enterrados mais de 20 monarcas, e a Colegiatta de San Isidoro contruída dentro da muralha que circunda a cidade, foram os primeiros locais de interesse cultural que visitamos. E foi lá, ao lado deste prédio secular, é que encontramos a primeira placa relacionada ao Sagrado Caminho de Santiago. Daquele momento em diante, impulsionados por uma grande curiosidade e envolvidos pelo sentimento de participar desta história milenar de fé cristã, passamos a seguí-las. As famosas setas amarelas que indicam a direção do Caminho ao peregrino estão visivelmente identificadas em fachadas de prédios, postes, praças, algumas vezes, até em árvores. E assim, sem precisar de mapa algum, chegamos até a Catedral.


Em uma grande praça, a imponência da Catedral nesta cidade que já foi capital do reinado romano de Ordono II na Idade Média e que, nos primeiros anos da Reconquista, foi capital da Espanha Cristã, é revelada pelo seu estilo originalmente gótico e destacada pelos impressionantes vitrais. Ao todo, os 125 vitrais grandes e 57 redondos menores, datam do século XIII ao século XX. A rosácia Oeste, que fica na fachada principal da Catedral possui 8 metros de diâmetro. Os espectros de luz colorida projetados a partir dos desenhos deste vitrais, fazem com que o visitante e pricipalmente o peregrino que chega em seu interior, fique hipnotizado com tamanha beleza e soberania. Registramos alguns momentos através da câmera filmadora, entretanto a lembrança de estar ali, ver e sentir a energia daquele lugar tão cheio de história, é um registro que jamais podemos esquecer nem tão pouco comparar...
A cada esquina, descobríamos uma cidade ainda mais bonita. Prédios e lojas modernas harmonizam-se com a arquitetura antiga dando um ar cosmopolita a cidade. Visitamos ainda outros dois palácios muito bem conservados: a Casa de Los Guzmanes com sua fachada renascentista e a Casa de Los Botines, esta última projetada por Antoni Gaudí, que atualmente é um banco. Depois de conhecer a cidade, voltamos para a estrada, ou melhor, para o Caminho de Santiago. Peregrinos de todas as idades com seus cajados e conchas de vieiras sobre as mochilas ou penduradas nas bicicletas, iam surgindo a cada trecho da estrada. A História do Caminho (já mencionada no Blog), convida desde então multidões de pessoas de todas as partes do mundo a percorrer este trajeto mágico. E é exatamente o que sentimos ao passar pelos marcos, estradas, pontes, e pueblos: a necessidade de encontrar a si próprio, conhecer nossos limites, vencer nossos medos, acreditar na força interior que faz de nós seres diferenciados, ou simplismente, sentir a presença de Deus e demosntrar sua fé nas Palavras Sagradas, cuja missão de pregar o Evangelho São Tiago se dedicou sua vida é que constitui-se toda a magia deste Caminho. Ainda pela manhã e percorrendo a N120, chegamos até outra cidade importante do Caminho: Astorga.

Construída sobre uma grande muralha, esta cidade de origem romana, possui dois grande monumentos de destaque: a Catedral, construída entre os séculos 15 e 18 e o Palácio Episcopal. Este edifício que hoje abriga obras de arte religiosa medieval e algumas relíquias do período em que era apenas um assentamento romano, foi projetado por Antoni Gaudí quando o prédio anterior foi totalmente destruído por um incêndio em 1887. Entretanto sua aparência “diferente” somado ao custo total da obra, escandalizaram a diocese dando motivo para nenhum outro bispo fazer dele sua residência oficial. Caminhamos pelo centro, e em uma das lojas de souvenirs, compramos nossa Concha de Vieira com a cruz dos cavaleiros templários para colocar no carro, afinal, esta é uma das inúmeras tradições do peregrino que cruza o caminho e nós, certamente que não poderíamos deixar de participar de toda esta mística que envolve a História. No Café Goyo, saboreamos um cortado (café forte com um pingo de leite), enquanto a Beta se deliciava com um picolé Frigo (nome que se dá ao sorvete da Kibon). De volta a estrada e ao Caminho, nosso próximo destino seria Ponferrada. E viajando sobre os Montes de León, onde é possível admirar a beleza desta região tão peculiar e tão antiga, é que a sensação de não estar só nesta viagem é confortante. Vimos muitos peregrinos e em alguns trechos, como durante nossa parada em Castrillo de los Polvazares, observamos que apesar da imagem de uma fortaleza sólida de pedra das suas construções e calçamento, o espirito acolhedor envolve as pessoas que ali vivem.


Em Molinaseca, a placa já na estrada define o lugar como “Um oásis no Caminho,” pois o rio e a ponte medieval sobre a água cristalina da montanha provoca ao visitante, uma sensação de alívio e comtemplação , muito apropriado para quem enfrenta tantos quilômetros desta dura e gratificante jornada. O dia continuava maravilhoso e o sol que já era forte, nos fez acreditar estarmos vendo uma miragem: o Castelo de Ponferrada.


Encontramos esta fortaleza medieval logo que chegamos a cidade. Diz alguma das muitas lendas do Caminho que este castelo, contruído pelos Cavaleiros Templários entre os séculos 12 e 14, fora motivado pelo desejo de abrigar e proteger os peregrinos que por ali passavam. Entretanto, alguns historiadores acreditam que, pela imponência de seus 10.000 metros quadrados e pela quantidade de símbolos, signos e detalhes na decoração do castelo, havia um motivo maior para tamanha construção. Diz a História que os Cavaleiros resgataram dos subterrâneos do Templo de Jerusalém, a “Arca da Aliança” e depois desta missão teriam se reunido em 1128 para fundar oficialmente esta Ordem. Não seria esse Castelo o abrigo para tamanha riqueza religiosa? É exatamente o que alguns estudiosos se perguntam... Percorremos algumas esquinas e ruelas no centro histórico e, como havia muito pouco movimento, tivemos a impressão de estarmos fazendo uma viagem pela História e pelo tempo. Ao redor de prédios antigos, monumentos repletos de simbolismos e nas grandes praças fotografamos e filmamos para registrar esta passagem tão mágica antes de retornar a estrada. Jamais iremos esquecer este lugar... Agora cruzando a Cordilheira Cantábrica pela A6, era hora de admirar e se espantar com a beleza da vegetação intensa de uma das regiões mais férteis da Espanha: a Galícia. O verde das montanhas e os muitos penhascos por onde desenhava-se a estrada, fazia a visão ficar ainda mais impressionante. Foi um momento para relembrar que este maravilhoso país preserva e enaltece sua cultura, não apenas cuidando seus prédios históricos, mas oferecendo condições, através de uma infraestrutura moderna e de muita qualidade como observada nas várias pontes e túneis gigantescos, para que os novos visitantes sintam-se de seguros, benvindos e convidados a descobrir os encantos de suas terras e de seu povo. No final da tarde chegamos a Lugo. Como o acesso ao Camping que supostamente ficaríamos estava fechado por conta de uma maratona ciclística na estrada, preenchemos o tempo no Supermercado Carrefour ao lado. Ao retornar a mesma estrada, já liberada pelos guardas, descobrimos que o Camping não abriria mesmo, pois a entrada estava tomada de vegetação e seus portões trancados. Saímos então a procura de outros campings enquanto a noite começava a cair. E foi na localidade de Nadela, um tanto afastados do centro de Lugo, que decidimos dormir no Hostal Arborada. Este hotel acabou sendo uma apropriada alternativa, uma vez que as instalações do hotel eram ótimas, já estávamos cansados da viagem e principalmente porque aquela altura, a neblina úmida e fria já pairava sobre a toda região. "


E assim foi naquele dia 11 de junho de 2005. Mal ainda sabíamos que voltaríamos a passar por estes lugares agora de bicicleta...
Doce mesmo é sonhar!!!
Postado por Luciana

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